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Dois poderosos mitos fizeram-nos acreditar que o amor podia, devia sublimar-se em criação estética:
- o mito socrático ( amar serve para criar uma multidão de belos e magníficos discursos )
- e o mito romântico ( produzirei uma obra imortal escrevendo a minha paixão )
[ roland barthes fragmentos de um discurso amoroso 1977
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2 comentários:
escrito como resposta a uma nota ao poema de José Luís Peixoto
Quando me cansei de mentir a mim próprio,
comecei a escrever um livro de poesia.
Foi há duas horas que decidi, mas foi há muito
mais tempo que comecei a cansar-me. O cansaço
é uma pele gradual como o outono. Pausa.
Pousa devagar sobre a carne, como as folhas
sobre a terra, e atravessa-a até aos ossos,
como as folhas atravessam a terra e tocam
os mortos e tornam-se férteis a seu lado.
A cidade continua nas ruas, as raparigas riem,
mas há um segredo que fermenta no silêncio.
São as palavras, livres, os livros por escrever,
aquilo que virá com as estações futuras.
Há sempre esperança no fundo das avenidas.
Mas há poças de água nos passeios. Há frio,
há cansaço, há duas horas que decidi, outono.
E o meu corpo não quer mentir, e aquilo que
não é o meu corpo, o tempo, sabe que
tenho muitos poemas para escrever.
[ José Luís Peixoto in Gaveta de Papéis
Edições Quasi
Todos nao, acho que nao.
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